AMBULATÓRIO DE CANNABIS MEDICINAL: CONQUISTAS, DESAFIOS E PERSPECTIVAS
DOI:
https://doi.org/10.58731/2965-0771.2025.65Resumo
A cannabis tem sido utilizada medicinalmente desde a pré-história, sendo criminalizada ao longo do século XX por pressões políticas e industriais. No Brasil, o cenário começou a mudar a partir do século XXI, com revisões jurídicas e regulamentações da ANVISA e do Conselho Federal de Medicina, permitindo sua prescrição em alguns casos específicos. Este trabalho apresenta um relato de experiência sobre o Ambulatório de Cannabis Medicinal da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), criado em 2018 como um projeto de extensão. O ambulatório oferece assistência a pacientes que necessitam de cannabis para fins terapêuticos, além de divulgar informações sobre aspectos legais e promover formação de prescritores. Desde sua fundação, o ambulatório realizou 376 atendimentos clínicos. Os principais desafios incluem a falta de médicos prescritores, estrutura física adequada e apoio institucional. Em 2024, o projeto foi renovado, permitindo a retomada dos atendimentos e das Rodas Canábicas – encontros educativos e de acolhimento. A principal demanda dos pacientes foi para o tratamento de dores crônicas e transtornos como fibromialgia e ansiedade. Apesar da ausência de estudos clínicos robustos, muitos relataram melhora na qualidade de vida. Não foram registrados efeitos colaterais graves. O acesso à cannabis medicinal ainda enfrenta barreiras legais, sociais e institucionais. Entre os principais desafios: oferta/acesso ao medicamento, preconceito social e inclusão de profissionais prescritores no SUS. O ambulatório desempenha papel essencial na assistência e formação, mas necessita de maior apoio para garantir sua continuidade. A expansão de estudos científicos e mudanças regulatórias são fundamentais para ampliar acesso ao tratamento.
PALAVRAS-CHAVE: cannabis, direito à saúde, saúde.
Referências
1. Charitos IA, Gagliano-Candela R, Santacroce L, Bottalico L. The Cannabis spread throughout the continents and its therapeutic use in history. Endocr Metab Immune Disord Drug Targets. 2021;21(3):407-17. doi:10.2174/1871530320666200520095900
2. Souza JEL de. “É prohibida a venda e uso do pito do pango”: o proibicionismo da Cannabis no Rio de Janeiro do século XIX. 2022. 218 f. (il.). Tese (doutorado) – Programa de Pós-Graduação História, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia, Salvador; 2022. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Gabriela Reis Sampaio.
3. Ren M, Espiga Z, Wu X, Spengler R, Jiang HK, Yang Y, et al. The origins of Cannabis smoking: chemical residue evidence from the first millennium BCE in the Pamirs. Sci Adv. 2019;5(6):eaaw1391. doi:10.1126/sciadv.aaw139.
4. Barros A, Peres M. Proibição da maconha no Brasil e suas raízes históricas escravocratas. Periferia [Internet]. 25º de setembro de 2012 [acessado em março de 2025];3(2). Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/periferia/article/view/3953.
5. Carlini EA. A história da maconha no Brasil. J Bras Psiquiatr. 2006;55(4):314-7.
6. Brasil. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências.
7. Brasil. Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006. Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad e dá outras providências.
8. Conselho Federal de Medicina (CFM). Resolução Nº 2.113/2014. Diário Oficial União. 2014 dez 17.
9. Brandão MD. O problema público da maconha no Brasil: anotações sobre quatro ciclos de atores, interesses e controvérsias. Dilemas Rev Estud Confl Controle Soc. 2014;7(4):703-40.
10. Dória JR. Os fumadores de maconha: efeitos e males do vício. In: MacRae E, Alves WC. Fumo de Angola: canabis, racismo, resistência cultural e espiritualidade. Salvador: EDUFBA; 2016.
11. Tribuna do Paraná. Drogas que eram usadas com fins medicinais no século XIX [Internet]. 2008 nov 18 [atualizado 2013 jan 19; citado 2025 fev 16]. Disponível em: https://www.tribunapr.com.br/arquivo/tecnologia/drogas-que-eram-usadas-com-fins-medicinais-no-seculo-xix/
12. Romanini M, Roso A. Mídia e crack: promovendo saúde ou reforçando relações de dominação? Psicol Ciênc Prof. 2012;32(1):82-97. doi:10.1590/S1414-98932012000100007.
13. Burgati MO. O caso da menina Anny Fischer e a derrotabilidade do crime de tráfico de drogas ante o princípio da dignidade humana. RJLB. 2016;2(4):1247-79. Disponível em: https://www.cidp.pt/revistas/rjlb/2016/4/2016_04_1247_1279.pdf.
14. Valverde R. Delegação da Fiocruz visita instalações da Apepi. Agência Fiocruz de Notícias [Internet]. 2024 fev 5 [citado 2025 mar 5]. Disponível em: https://portal.fiocruz.br/en/noticia/delegacao-da-fiocruz-visita-instalacoes-da-apepi-0.
15. Batista Vieira V. O Uso Da Cannabis Para Fins Terapêuticos Requer Prescrição Médica? - Análise da Utilização da Maconha Para Fins Medicinais À Luz da Bioética de Intervenção e Outras Epistemes Do Sul/ Vinícius Batista Vieira; Orientador Saulo Ferreira Feitosa . -- Brasília, 2024. P156p. Tese (Doutorado em Bioética); - - Brasília, 2024.
16. Araújo PS, Costa EA, Sandes CFB, Cruz ECD, Rocha JS, Soares LCC. Análise política sobre a regulamentação do uso medicinal dos produtos derivados da Cannabis spp. no Brasil (2014-2021). Vigil Sanit Debate. 2022;10(4):69-78. doi:10.22239/2317-269X.02043.
17. Supremo Tribunal Federal do Brasil. STF define 40 gramas de maconha como critério para diferenciar usuário de traficante. 2024 jun 26 [acesso em 2025 mar 5]. Disponível em: https://noticias.stf.jus.br/postsnoticias/stf-define-40-gramas-de-maconha-como-criterio-para-diferenciar-usuario-de-traficante/.
18. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). A Anvisa atualizou a lista das Denominações Comuns Brasileiras Foram incluídas 31 novas denominações. Publicado em 02/09/2024 [acesso em 05/03/2025]. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/noticias-anvisa/2024/anvisa-atualiza-lista-das-denominacoes-comuns-brasileiras-1.
19. Ren M, Tang Z, Wu X, et al. The origins of Cannabis smoking: Chemical residue evidence from the first millennium BCE in the Pamirs. Sci Adv. 2019;5(6):eaaw1391. Published 2019 Jun 12. doi:10.1126/sciadv.aaw1391
20. Simões CMO, Schenkel EP, de Mello JCP, Mentz LA, Petrovick PR. Farmacognosia: Do Produto Natural ao Medicamento. Artmed: São Paulo (2016). 502p.
21. MacGillivray N. Sir William Brooke O’Shaughnessy (1808–1889), MD, FRS, LRCS Ed: Chemical pathologist, pharmacologist and pioneer in electric telegraphy. J Med Biogr. 2017;25(3):186-96. doi:10.1177/0967772015596276
22. Devane WA, Dysarz FA, Johnson MR, Melvin LS, Howlett AC. Isolation and structure of a brain constituent that binds to the cannabinoid receptor. Science. 1992;258(5090):1946-9
23. Mechoulam R, Parker LA. The endocannabinoid system and the brain. Annu Rev Psychol. 2013;64:21-47.
24. Russo EB. Clinical endocannabinoid deficiency (CECD): can this concept explain therapeutic benefits of Cannabis in migraine, fibromyalgia, irritable bowel syndrome and other treatment-resistant conditions? Neuro Endocrinol Lett. 2004;25(1-2):31-9.
25. Rottnek F, Lyss S, Hartman J, Panjeton G, Hilmer A. Cannabis and pain management. J Am Board Fam Med. 2024;37(4):784-9. doi:10.3122/jabfm.2023.230462R1
26. Johal H, Devji T, Chang Y, Simone J, Vannabouathong C, Bhandari M. Cannabinoids in chronic non-cancer pain: a systematic review and meta-analysis. Clin Med Insights Arthritis Musculoskelet Disord. 2020;13:1179544120906461.
27. Degenhardt L, Coffey C, Hearps S, et al. Associations between psychotic symptoms and substance use in young offenders. Drug Alcohol Rev. 2015;34(6):673-682. doi:10.1111/dar.12280
28. Bigand T, Anderson CL, Roberts ML, Shaw MR, Wilson M. Benefits and adverse effects of Cannabis use among adults with persistent pain. Nurs Outlook. 2019;67(3):223-31.
29. Siracusa R, Paola RD, Cuzzocrea S, Impellizzeri D. Fibromyalgia: pathogenesis, mechanisms, diagnosis and treatment options update. Int J Mol Sci. 2021;22(8):3891. doi:10.3390/ijms22083891
30. Chinn S, Caldwell W, Gritsenko K. Fibromyalgia pathogenesis and treatment options update. Curr Pain Headache Rep. 2016;20(4):25. doi:10.1007/s11916-016-0556-x.
31. Kurlyandchik I, Tiralongo E, Schloss J. Safety and efficacy of medicinal Cannabis in the treatment of fibromyalgia: a systematic review. J Altern Complement Med. 2021;27(3):198-213. doi:10.1089/acm.2020.0331
32. Chaves C, Bittencourt PCT, Pelegrini A. Ingestão de um óleo de Cannabis rico em THC em pessoas com fibromialgia: um ensaio clínico randomizado, duplo-cego e controlado por placebo. Med Dor. 2020;21(10):2212-8. doi:10.1093/pm/pnaa303.
33. Tourjman SV, Buck G, Jutras-Aswad D, et al. Canadian Network for Mood and Anxiety Treatments (CANMAT) Task Force Report: A systematic review and recommendations of Cannabis use in bipolar disorder and major depressive disorder. Can J Psychiatry. 2023;68(5):299-311. doi:10.1177/07067437221099769.
34. Lam RW, Kennedy SH, Adams C, et al. Canadian Network for Mood and Anxiety Treatments (CANMAT) 2023 update on clinical guidelines for management of major depressive disorder in adults. Can J Psychiatry. 2024;69(9):641-87. doi:10.1177/07067437241245384.
35. Jefsen OH, Erlangsen A, Nordentoft M, Hjorthøj C. Cannabis use disorder and subsequent risk of psychotic and nonpsychotic unipolar depression and bipolar disorder. JAMA Psychiatry. 2023;80(8):803-10. doi:10.1001/jamapsychiatry.2023.1256.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Revista Brasileira de Cannabis

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.


